musica 2

06 capoeira regional - ginga, com amor - a palma de bimba.mp3

sábado, 6 de abril de 2013

MESTRE BIMBA. OBÁ.





                                      MESTRE BIMBA. OBÁ.
                       “ONIPOTENTE, ONISCIENTE E ONIPRESENTE DA CAPOEIRA”

Peça a vênia para Bimba passar com sua Luta “Regioná”.
(Beija flor)
Sobral-CE, Verão-2013

O tirano morre o seu reinado termina.
O mártir morre o seu reinado começa.
(Soren Kierkegard)

Na capoeira? Primeiro é Bimba, segundo Bimba, terceiro Bimba e depois?... Mestre Bimba era iluminado. Nada e nem ninguém pode compará-lo a outro. Foi um Herói africano de todos os tempos da capoeira. Ele era Pedra, Rei soberano, Batuqueiro do Engenho Velho de Brotas, Luta de resistência, Apóstolo, Pregador da paz. Ponte, Ético, Educador pra vida, Farol. Barco, Luz, A bússola, Homem da palavra, o que apontava o caminho, que abria a porta, que tinha o dom de ser, um poço sem fundo, um Agarapé que se transformava em Oceano, Barravento. É o dobrar da esquina, emboscadas e pura malandragem do seu pombo voador. É Trovão, Mestre Forte, Amigo, Humilde, Leal, Justo e incontestavelmente horizontal, Puro Xangô.
No salientar do mestre Acordeon: [...] ele era forte na alma, tinha uma faca no olhar, que cortava a gente de cima a baixo quando estava a ensinar. Manoel dos Reis Machado foi o único capaz de só pela força da sua palavra e ação influenciar e transformar de tal maneira a vida de tantas pessoas, das mais simples aos intelectuais, de estivador, pintor, carroceiro as classes mais altas, fazia de meninos, homens. Era um educador divino, que fazia o aluno pressentir a vida, ele comandava discípulos, exércitos e guerreiros, aquele que tinha contato com esse líder saia embriagados com suas idéias e ensinamentos e nunca mais seria o mesmo. Este gigante de personalidade firme, que tinha um carisma no olhar e um poder de liderança, contagiava a todos, tinha uma cosmovisão além do seu tempo e conseguiu levar a capoeira para tão longe, dizia: “Fiz capoeira para o mundo”. É! É essa mesmo! Capoeira “regioná”, hoje é “mundiá” meus camaradinhas. Em um aperto de mão com o Presidente Getúlio Vargas tira a capoeira do código penal, da marginalização e perseguição da época, tirando-a debaixo do pé do boi, do breu, dando visibilidade a esta arte-luta, e encaminhando-a, modernizando-a e levando-a para o seio da sociedade. Pois, quem tá no claro não vê quem tá no escuro, meu camarada. Ele percebeu que o jogo da capoeiragem que ele fazia era mais livre, sem regras, pelo chão, mais cultural e lúdica, não tão eficaz para enfrentar as outras artes marciais que estavam chegando ao Brasil; por isso cria a luta regional baiana, uma luta rápida, em pé, forte, sistemática, ereta com muito balanço e mandinga com objetivo de gladiador, de competição e com base nas suas raízes de matrizes africanas. 
O mestre provocou uma ruptura e desenvolveu uma reforma urgente dentro da capoeira e uma transformação abissal naquele momento antropológico, histórico e sociológico na época. A CAPOEIRA REIGONAL TORNA-SE UM DIVISOR DE ÀGUAS NA BAHIA. Bimba era um Gênio, e gênio é diferente de talento. “O talento é quando um atirador atinge um alvo que os outros não conseguem”. Gênio é quando um atirador atinge um alvo que os outros não vêem. (Feuerbach). A batalha deste Sábio era contra os preconceitos, as injustiças sociais e diáspora que o povo negro sofria na Bahia. O campeão negro de capoeira que derrubava com três pancadas seus adversários, com seu rito-africano e misterioso, desafiava a todos para luta livre naquelas tardes de domingo no parque Odeon, nas ruas e nos ringues, tudo era por uma necessidade crucial de sobrevivência e de mostrar o valor que a capoeira tinha perante as outras artes marciais naquele momento. Ele é comparado aqui com a necessidade de transformação evolutiva do Homo Erectus.
Bimba é bamba, é volta ao mundo, é pé minha gente! Sem este guerreiro e sem ginga não existiria a capoeira, assim como o batuque que completamente desapareceu, como ele mesmo falava: “a ginga é a alma do capoeirista”. “Gingar sempre”. “E a fruta só dá no tempo”. O Mestre Bimba foi magnificamente brilhante na criação da capoeira regional; a sensibilidade estética para o jogo da Iúna, a magnitude para jogo da banguela, a sabedoria na criação das seqüencias e da formatura, o ritual de passagem que é o batizado, a objetividade para luta quando tocava São Bento Grande, o poder de sociabilização que ele tinha era inigualável, de agregar negros, branco, ricos, pobres, da zona norte, da zona sul, pessoas de varias regiões da Bahia para suas festas e ensinamentos. Manoel Bimba dos Reis Machado já era contemporâneo, muito além do seu tempo e espaço... Simplesmente cabal. A capoeira regional? EM SUMA É UM MÉTODO UNIVERSAL, assim como é a Psicanálise do Mestre Freud e metodologia pedagógica do Mestre Paulo Freire. 
O Mestre Bimba que dava lição, que ensinava arqueado, crucifixo, gravata alta no Nordeste de Amaralina ou Engenho da Conceição, que era água de beber “ou quando eu entrar, você entra, quando eu sair, você sai, ou sim, sim, sim ou não, não, não... lá da roça do lobo, esse não tem igual”.
Quando o artista e escritor Caribé chega a ressaltar: “Bimba é o Lutero da capoeira” uma referência a sua capacidade e importância da criação desta luta regional, como foi impecável para o mundo. ”O homem será antes de mais nada o que tiver projetado a ser” (Sartre).
SALVE, SALVE Mestre dos Mestres, Mestríssimo, Supremo Bimba, que ajudou e foi ajudado, que influenciou e foi influenciado, que ensinou, aprendeu e apreendeu com seus alunos e sempre aberto a novas evoluções. Como falava Cora Coralina: “O saber agente aprende com os mestres e com os livros, mas a sabedoria se aprende é com a vida e com os humildes”. E isso, este grande homem sabia fazer muito bem. Devemos aplaudir e congratular também aqui a todos os seus alunos que ajudaram de forma direta a colocar um tijolo neste projeto grandioso da luta regional baiana. A presença crucial e marcante do cearense José Cisnando de Lima e sua percepção importantíssima nesta construção faraônica, a sensibilidade e fidelidade arrebatadora do mestre Decânio, a peregrinação incansável pelos quatro cantos do mundo do andarilho mestre Itapoan levando e semeando os ensinamentos do mestre. Como o Apóstolo Paulo de Tarço fez com o cristianismo primitivo. O Itapoan teve e tem um papel como proeminente e fundamental desta revelação da capoeira regional até hoje. Também os alunos: Atenilo, Delfino, Rui Gouveia, João Veloso, Crispim Airton Onça, Camisa Roxa, Vermelho, Carlos Senna, Gigante, Jair Moura, Geni e tantos outros... Pois o verdadeiro Mestre não é aquele que conquista pela força, mas pela simplicidade abissal do seu ser.
É isso ai meus camaradinhas... A CAPOEIRA REGIONAL TÁ VIVA. Muitíssimo viva, pois capoeira boa se sustenta. Para aqueles que falam que ela é ultrapassada, “demoder”, ou até saróba. Ela estar presente na caminhada firme e confiante do mestre Nenel (BA); no São Bento Grande bem tocado do mestre Dentista (PE) que quando canta as quadras emociona a todos. Já nas festas de formatura com o jogo da Iúna com o mestre Renato na terra dos valentões (PE) é um grande espetáculo; na metodologia de ensinar firme e educar seus alunos com o seu olhar impenetrável do mestre Gororoba no sul (RS), ou na forma de calmaria de ensinar segurando as mãos dos seus alunos, ou no ritualismo do batizado na entrega da primeira graduação das criancinhas serelepes do professor Edy do Axé Dendê (CE), e tantos outros que levam o legado do mestre neste mundaréu do meu Deus. Bimba renasce quando alguém em qualquer lugar do mundo na roda ainda hoje aplica um baú, uma banda traçada, asfixiante, galopante, arrastão, um chapéu de couro, vingativa, ou simplesmente um “sarto mortá”, meu camaradinha. Ele ressuscita quando tocam a banguela, uma Santa Maria, ou mesmo quando um mestre toca uma cavalaria na malandragem para avisar aos seus alunos que chegou à roda um mal-assombrado. Bimba tá lá intrinsecamente, incontestavelmente. Um eterno retorno (Nietzsche). A ferro e fogo. 
OBÁKASÔ (O REI NÃO MORREU)
Em época de bengola, onde muitos jogam com a bunda no chão, onde uns jogam “angola” e diz que é banguela e outros jogam “banguela” usurpando golpes da capoeira angola; grupos plagiando outros, completamente sem identidade, “professores” que não sabem o que é um bochecho ou crucifixo, “contramestres” que nunca tocaram uma Idalina e “mestres” que usam nos seus grupos “graduações de todas as cores e de todos os tipos”, pra que? Se eles nem sabem da sua “origem”, e nem o seu “significado”... Não sabem da importância das sequências e cintura desprezada para o desenvolvimento psicomotor no aluno, um verdadeiro abismo sem fundo, ai fica difícil compreender a imensidão deste fenômeno chamado Bimba. O que muitos buscam hoje mesmo é preencher os seus vazios e massagear seus capoegos. É lamentável a incognoscibilidade de alguns capoeiristas, pois, ninguém pode ver além do que não compreende e só podemos valorizar aquilo que se conhece. Enxergar universalização e o iluminismo do todo poderoso e absoluto Bimba necessita de muita prática, paciência e tempo. Para viver, pensar e sentir na cadência do Bimba requer mergulho, sair da caverna de Platão, buscar seu self, essência e muito fundamento...meus camaradinhas... AXÉ BIMBA, XANGÔ KAO KABIESI, BABÁ MI. (Venha Bimba a mim com sua realeza e força.)

O homem é um ser que sofre o dilaceramento da alma, multifacetado pelo seu individualismo e pela suas contradições (F. Dostoievski)

“Os homens são perturbadores não pelas coisas, mas pelo ponto de vista que adotam sobre elas”.

SARAVÁ...

Vá na paz.
Facebook- mestre beija flor.

                                MESTRE BEIJA FLOR:
Professor: Eraldo Gabriel. (Mestre de Capoeira,)
Filósofo.
Teólogo (UFC/ICRE)
Especialista em Ciência da Religião- ICRE- Fortaleza-CE
Pós Graduado em Educação Inclusiva (UECE) 
Especialista em Capoeira Inclusiva (SBCI) 
Presidente da Sociedade Brasileira de Capoeira Inclusiva.